sábado, 17 de março de 2012

DE LUA E ESTRELAS…

Se encontrares uma mulher qualquer,
feia, pálida e seminua, bem à tua frente,
por certo não é nenhuma louca. Sou eu!

E, de mim, nada a temer. Sequer te assustes!
Pois, se olhares amorosamente, então verás
a lua, feita em manto, sobre o meu corpo.
E estrelas cintilando em meus cabelos.

Se, não por acaso, não os vias antes,
é que olhavas apenas com o olhar da razão.
E a razão também é fera traiçoeira!

De agora em diante, suplico-te,
não sejas tão demente, oh meu amor…
Vê se me enxergas com o olhar do coração.

E descobrirás, surpreendentemente,
que a fulgurante lua que me veste,
e as estrelas cintilantes em meus cabelos,
vêm do âmago do teu próprio ser.

Sou eu, o teu translúcido e fiel espelho!
Em mim tu vês, em essência, a tua natureza.
Seja o reflexo espectral do teu próprio breu…
Seja a luz azul da tua própria alma, radiosa,
vestida de lua e cintilando estrelas sobre mim!


Kátia Drummond 

Arte: Brian Froud – Fada

segunda-feira, 12 de março de 2012

MAR MORTO

Não é de agora a nossa tatuagem...

Fomos marcados em tempos distantes,
no  longínquo país das poesias,
e éramos, os dois, seres vagantes…
Seres libertos do sim e do não,
a navegar no mar das fantasias,
sem mergulhar no poço da ilusão.
De quando as fadas nos acompanhavam,
e os anjinhos da guarda nos zelavam
contra os perigos da desilusão.

Não é de agora a nossa tatuagem...

E se aqui, na Terra, de passagem,
nós nos reencontramos novamente,
é que, em meio ao louco turbilhão,
essa misturação de tanta gente,
fomos tecidos do mesmo cordão.
Nascemos frutos da mesma semente.

Não é de agora a nossa tatuagem...

Se a nossa união vem de outrora,
e se temos o amor por engrenagem,
no mundo da paixão é diferente.
É cada qual por si. Isso é normal!
Mas… Sereno como a brisa matinal,
você seguiu em frente, porto a porto,
segundo o ritual da cabotagem.
E eu, sob os presságios da paixão,
virei um anjo à toa, um anjo torto.
Que em meio aos vãos apegos da emoção,
perdeu a rota, o rumo da viagem…
Afogou-se nas águas de um mar morto!


Kátia Drummond

Foto: Kátia Drummond. In Sweden.

domingo, 11 de março de 2012

O NOSSO ETERNO AMOR 

Ah… Como eu te amo, amor... 
Ah… Amor, quanto eu te amo! 

E de tanto amar-te, assim, 
entre saudades e prantos, 
prisioneira da dor, 
e de todos os quebrantos, 
desde quando tu partiste, 
ao mundo inteiro eu proclamo 
a eternidade do amor. 

Seja ele o meu torpor, 
seja ele alegre ou triste. 


Kátia Drummond

Foto: Alan Parker/Frank Lane 
Picture Agency/Corbis

sábado, 10 de março de 2012

 LOUCA LUCIDEZ

Não tenho medo de sofrer por você, 
não tenho medo de chorar por você, 
não tenho medo de sentir saudades… 

Sem contar as vezes que, juntos, 
sorrimos as nossas sinceras alegrias 
e os nossos essenciais contentamentos. 

Porque o nosso amor é sem limites. 
Amor pra toda a vida. Amor eterno. 

O que somente poucos percebem, 
raros entendem e "loucos" desfrutam!


Kátia Drummond

Foto: John Smith/Corbis

CONSAGRAÇÃO

Sinto uma suave fragrância de alfazema no ar...
Sei que ele ronda o templo… E que não tarda.

Trato de acender as velas e os incensos.
Abro as janelas, como quem devassa sonhos.
Peço silêncio aos pássaros. Calma ao vento.
Ao longe, entre o ramalhar das árvores,
pressinto, em quietude, o seu chegar!

Preparo o corpo para o calor do seu abraço.
O rosto, para a ternura do seu beijo,
O colo, para o deleite da sua alma.

Como quem não quer nada,
agradeço aos elementais, na surdina…
Faço-me concha, para aconchegá-lo.
Em formosuras, faço-me ninho.

E, depois, sorrindo em lágrimas,
venero-o, em maternal amor.

Vejo-o partir, como partem as andorinhas.
Os girassóis, ao findar as primaveras…
Mas… Apenas por saber que ele voltará,
sinto-me, ou finjo-me sentir, asserenada.

Afinal, somos, da mesma natureza, engendrados.
No mesmo universo, mãe e filho, proclamados.
Dessemelhantes, gerados da mesma espécie.
Consagrados, ungidos com a mesma luz!

Sinto uma suave fragrância de alfazema no ar...


Katia Drummond

Foto: Sávio Drummond, em plena atividade zoológica. 
Como amava demais a vida no campo, 
dá pra ver no seu franco e feliz sorriso.



PEDRA FILOSOFAL

Continuas a brotar em minha vida,
como brotam, aos borbotões,
entre pedras filosofais,
a mais pura água cristalina.

Fascinada, bebo desta água,
qual um mendigo sedento.
E, como nos contos de fadas,
transmuto-me em sereia dourada.

Dessas predestinadas a semear
poesias e encantamentos além mar…
Somente para ver-te, junto a mim,
a colher amores e felicidades!


Kátia Drummond

Foto: Kátia Drummond – A Pequena Sereia.
Homenagem do povo da Dinamarca a 
Hans Christian Andersen, querido e lendário escritor 
dinamarquês, germen da "nossa" encantada filosofia.

quinta-feira, 1 de março de 2012

NATUREZA ZEN

Minha natureza vive muito silenciosa.
Não anda mais a falar à toa por aí.
Ela prefere falar com a voz do coração.
Às vezes, um suspiro aqui, um sussurro alí…

Chego a pensar que sou uma espécie em extinção!


Kátia Drummond

Foto: Top Photo Corporation/Corbis
RUMO

Ser que nem o peregrinus.
Abrir asas e voar… 

Saber o melhor momento
de partir e de voltar.


Kátia Drummond

Foto: André Bernard Drummond – O falco que Cássia Drummond encontrou caído no chão, e que ela e André Bernard criaram até soltá-lo no Parque Ecológico Pituaçu Salvador, BA-BR