quinta-feira, 30 de julho de 2009


TERRA MÃE

Ai quem me dera ver-te verde e virgem,
oásis sobrevindo à fantasia.
Inalar-te o odor vindo das matas,
sugar-te o mel que ocultas nas entranhas.
Saborear o sumo adocicado dos teus frutos,
tocar de leve a tua tenra terra
e nela me acolher até dormir.
Sem sonhar, ver-te tal qual tu és,
terna e úmida mulher.
Sem pensar, ter-te absoluta e generosa mãe,
fértil concepção de muitos deuses.
E eu, noviça, apenas em ti
principiar de novo a vida.
O matiz da tua paisagem me delicia.
Aí, começamos a única
e derradeira viagem de luz.
Eu, tua aldeã, a invadir teu corpo,
eloquente digo que te amo.
Docemente afago-te com meus pés.
Tu me concedes a essência das essências.
Em mim jorras sublime o teu perfume,
enquanto chegam-me, um a um,
sacis, iaras, curupiras, caiporas.
Elfos, duendes, gnomos,
silfos, ondinas e salamandras.
As pedras que te cercam os rios, sorriem...

Encantada, consagro-te a minha vida pagã.
Sem blasfêmia, beijo-te o chão.
E tu sorris toda só pra mim.
Dos jasmins, caem delícias sobre meus cabelos.
Os bichos-da-seda acobertam-me o ventre.
A brisa fogosa desvenda-me o sexo.
Tu me tens. Delícia das delícias!...
Se verdejante exorcizas-me,
enquanto em mim perpetuas a espécie,
plácida aquieto-me, recebo-te
e eternizo inerte o teu amor.
De mim brotam o céu e a terra.
A água, o fogo, o ar.
Surgem vales e montanhas.
Lagos e rios. Flores e frutos.
E, quando de todos os instáveis
elementos nascem os homens,
pela primeira vez tu choras, maculada e triste,
ao pressentir, enfim, a tua própria morte.


Kátia Drummond
The travelling poet

Um comentário:

Edi Xavier da Guirra disse...

Você é de uma tamanha sensibilidade querida poetisa. Sempre que possível estarei aqui para viajar em tuas escreitas. Este blog me foi apresentado por uma amigo. Estou encantada! Bjos em seu coração.