sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
RITUAL SAGRADO DE VIDA E MORTE.
Aqui e alí, eu continuo a nascer.
E vos convido a participar desse sagrado ritual,
onde efêmera e impermanentemente sou lua e sol.
E em que oníricas fadas rodopiam evanescentes.
Aqui não tem tempo. Nem muros de pedras.
Trazeis libertas as almas e serenos os corações.
E alguns perfumados incensos e raminhos de alecrim.
Se ao meu lado ficarem, untarei vossos corpos nus
com o óleo das rosas vermelhas do bosque.
Revelar-vos-ei os caminhos secretos das florestas,
e as grutas encantadas, abrigos de delicados morcegos.
Percorreremos rios que escondem serpentes aladas,
e mares que guardam gigantes cavalos-marinhos.
Sobre eles, seguiremos ao encontro de translúcidas medusas.
E comeremos verdes algas e beberemos o roxo vinho musgal.
Submersas, as conchas nos servirão de taças.
Saudaremos felizes os Nagas ressuscitados.
A viagem parecerá longa. Mas... não, nada demora.
Encantados, eis que renasceremos do fundo do mar!
De volta, encontraremos uma frágil criança chorando,
débil folha seca, pendurada nos braços da mãe faminta.
E na terra rachada, um velho sedento sugará o derradeiro cacto.
Nós, renascidos, seremos a chuva, o leite, o mel.
E juntos, despertos, choraremos a vida e a morte.
Até a última gota das nossas salgadas lágrimas.
Kátia Drummond.
Em primavera portuguesa. Monte Estoril, 2005.
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