domingo, 11 de fevereiro de 2007
CARTA A BRISA
[Para Brisa Drummond Sjoëlin. Com amor de mãe-peregrina]
Querida filha Brisa,
A primavera portuguesa já chegou!
Infelizmente, ela veio bem antes de você.
Mas... não faz mal não.
Enquanto você não vem,
eu cá estou a regar todas as flores.
E quando as flores murcharem,
eu as colherei sem machucá-las.
Delicada e ternamente as soprarei,
e as lançarei nas asas do vento.
E quando o vento voar,
elas brotarão nas brancas nuvens.
Fique sempre atenta às nuvens, viu?
Vez em quando, favor olhar pro o céu.
E quando o céu amanhecer todo florido,
lembre que foi sua mãe, daqui de Portugal,
quem enviou essas flores pra você.
Com algumas delas, enfeite os cabelos.
Com outras, perfume seu corpo.
Quando as nuvens desvanecerem-se,
continue lembrando de mim.
Mesmo que o sol esteja mais quente
e que o céu esteja todo azul.
Não espere até a próxima primavera
para que nos encontremos.
Pois cá estou morrendo de saudades,
e a primavera pode não voltar.
Katia Drummond
Em primavera portuguesa. Sintra, 2005.
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