A ESPERA
De tanto esperar-te, em dor imensa,
sem nada que provoque diferença,
faço do teu colar a minha guia.
Se um outro me oferece companhia,
eu finjo ignorar sua presença.
E muito mais do que qualquer um pensa,
corro pro cais do porto à tua espera,
e cravo-me no chão, qual faz a era,
que desafia aquele que a apara.
Em frente ao mar azul que nos separa,
palco do nosso adeus sem despedida,
das lágrimas salgadas da partida.
Ai estrelas… Ai lua… Ai firmamento…
Acorrentada no meu pensamento,
fingi por muito tempo acreditar
que ainda poderia me enganar,
e alimentar a minha esperança.
Mas… já não tenho os sonhos de criança!
Sequer consigo seguir os caminhos
por onde voam belos passarinhos...
Bem onde os bem-te-vis, dia após dia,
fazem-me a canora companhia.
Agora, da janela do edifício,
vivo a alimentar meu próprio vício
de buscar-te nos tempos de menino.
Ou nas asas do nosso "peregrino".
Ai oceano… Ai céu… Aí horizonte…
Por onde anda o meu amor distante?
Deste banzo mortal, o que fazer?
Se já não sou dona do meu querer...
Se já perdi a conta da saudade...
E nem sei explicar esta vontade
que faz de mim escrava do meu eu,
encarcerada no meu próprio breu.
Olhar vidrado, alma amortecida,
procuro, em vão, trazer de volta à vida
o filho que do meu corpo nasceu…
E que em minha alma não morreu.
Kátia Drummond
Foto: Paul Souders/Corbis
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