domingo, 11 de abril de 2010



RANCHO PRA QUEM VEM DE FORA

Seu moço que vem de fora,
que traz de bom para mim?
O meu amor não tem hora,
o meu cantar não tem fim.
Seu moço que vem de fora,
goste um pouquinho de mim.

Sei fazer colar bonito,
sei fazer versos de amor.
Sei fazer pote de barro,
sei cantar sem ser cantor.
Sei bordar o meu vestido
e esconder a minha dor.

Seu moço que vem de longe,
que tem de bom pra me dar?
Pra você eu tenho a aurora
e tenho a luz do luar.
Seu moço que vem de longe,
que tem de bom pra me dar?

Eu sou a filha mais velha,
meu saber eu vou contar.
Sei de onde vem o rio,
sei das estrelas do mar.
Sei pra onde vai a lua,
sei sempre o sol onde está.

Seu moço que vem de fora,
me responda sem pensar:
em que caminhos da vida
eu posso amor encontrar?
Se escondido nas flores
ou nas estrelas do mar.

Se nas flores, colho todas.
Se no mar, vou me afogar.
O meu amor não tem hora,
é sem fim o meu cantar.
Seu moço que vem de fora,
que tem de bom pra me dar?

Kátia Drummond

Arte: Nasuko

sábado, 3 de abril de 2010

RITUAL SAGRADO DE VIDA E MORTE

 Aqui e ali, eu continuo a renascer.
E convido-vos a participar deste sagrado ritual,
onde efêmeras e oníricas, as fadas esvaecem.
não há templos, nem muros de pedras.
Trazeis libertas as almas e serenos os corações.
Perfumados incensos. Raminhos de alecrim.
Se ao meu lado ficarem, untarei vossos corpos
com o óleo das rosas vermelhas do bosque.
Revelar-vos-ei os caminhos secretos das florestas,
e as grutas encantadas, abrigos de delicados pirilampos.
Percorreremos rios que escondem serpentes aladas,
e mares que guardam gigantes cavalos-marinhos.
Seguiremos ao encontro de translúcidas medusas.
Comeremos verdes algas. Beberemos o vinho musgal.
Iridescentes conchas de madrepérolas servirão de taças. 
Entre pérolas, saudaremos os Nagas ressuscitados.
A viagem parecerá longa. Mas... O éden é atemporal.
Encantados, eis que renasceremos do fundo do mar...
De volta à Terra, encontraremos uma frágil criança a chorar.
Débil folha seca, pendurada nos braços da mãe faminta!
Um velho, esquálido e sedento, sugará o derradeiro cacto.
Nós, ressuscitados, seremos a chuva, o leite, o mel.
Juntos celebraremos a vida e carpiremos a morte.
Até a última gota das nossas salgadas lágrimas.


Kátia Drummond
The Travelling Poet

 Arte: Arthur Rackham