sexta-feira, 16 de outubro de 2009





DEVANEIO

Eu escrevo, pelo dom de existir.
E, por viver, ter alma pra sentir.

Eu escrevo não porque apenas sinto.
Mas pela mágica fogosa do instinto.

Eu escrevo, não por força da magia.
Mas por ser, mais que poeta, poesia.


Kátia Drummond
The Travelling Poet


quarta-feira, 14 de outubro de 2009




PROVENÇAL AMOR

Sou escrava dos que amam, e proclamam
em suas trovas, o provençal amor.
Daqueles que deliram, e gemem, o seu fervor.
Sem carta de alforria... E não reclamam!
Cativa exposta na catasta, posta à venda.
Submissa aos que buscam a bela prenda,
eis-me faminta, reduzida ao banzo.
Até nele sucumbir... Não de esperas.
Mas de amores a brotar nas primaveras!
A fluir nas águas doces dos seus lagos,
com brisas frescas a sussurrar afagos.
Até, sôfrega, alcançar a sua margem.
E fazer do seu corpo o cemitério,
onde, em prantos e encantos, sem mistério,
darei, por fim, meu sôfrego suspiro.
E, em êxtase, em versos terminais,
enterrarei meus derradeiros ais.
Até transformar minha quimera
no amor que renasce do suplício,
que vivifica e revigora o vício.
O amor que implora e que venera.
Escrava que sou da sua espera.


Kátia Drummond
The Travelling Poet

Arte: Antoine Denis Chaudet