domingo, 16 de agosto de 2009


EXÉRCITO DE ANJOS

Pequenos, barrigudinhos
Olhares tristes, mansinhos
Sorrisos amarelados
Perambulam nas esquinas
Frágeis como passarinhos
Os meninos e as meninas
Filhos das filhas das ruas
Donos dos bancos das praças
Pés-de-vento, pés descalços
Desamados, destemidos.
Perseguem-lhes os cães de raça.

Vira-latas das esquinas
Frágeis aves de rapina
Armados de pedra e pau
Os meninos e as meninas
Pastores das alvoradas
Atravessam madrugadas
Sempre em estado de graça
Adormecem ao relento
Parecem donos do tempo.
Perseguem-lhes os cães de caça.

Borboletas sob o sol
Vaga-lumes sob a lua
Sem presente e sem porvir
Quebram cercas, pulam muros
Sem saber pra onde ir
Os meninos e as meninas
Entre ódios e branduras
Guerrilheiros de almas puras
Maltrapilhos, quase nus
Têm um coração que clama
Uma alma que reclama
São todos anjos da terra.
Essas crianças de luz!

Katia Drummond
Obra: Exército de Anjos



Fotógrafo: Gideon Mendel

Um comentário:

Anônimo disse...

Apetece reler e reter teu poema ao som de "Brejo da Cruz", do Chico Buarque...

É assim que acredito neste poder in[contido] na Poesia... como porta-voz pelos que têm gritos arranhados na garganta. Como dizente das realidades não catalogadas, à parte, à margem das páginas...

Sussurrando as crianças que se alimentam de luz, grito-te um grande "bem haja", poetisa.