terça-feira, 21 de julho de 2009



MEU POETA

Não era brasileiro, o meu poeta.
Não tinha tempo nem medida certa.
Sua alma rondava o mundo inteiro.
Qual sombra de oitizeiro, em meu jardim,
pairava invisível sobre mim.
Vinha de longe, atravessava os mares
e desbravava o ronco do trovão.
Montado num unicórnio, qual gnomo,
meu príncipe encantado era assim:
as vezes menestrel, às vezes mudo,
fantástico, irreal e absurdo,
cheirava à folha verde de alecrim.
Sublime, o meu poeta me encantava!
Ave de arribação, eu lhe buscava
e em meu casulo lhe guardava enfim.
Um dia, finalmente, um belo dia,
eu despertei da minha fantasia
e vi o meu poeta em minha frente,
de carne e osso, igualzinho a mim.
Tão inocentemente tão bonito!
Tão permanentemente tão presente!
E ao lhe sentir fluir tanta energia,
lhe transformei, imediatamente,
de meu poeta em minha poesia.

Katia Drummond
Em inverno brasileiro. Bahia, Bahia.

Ilustração: Joseph Corsentino

Um comentário:

Anônimo disse...

"O poeta é como o príncipe das nuvens.
As suas asas de gigante não o deixam caminhar."

[Charles Baudelaire]

...

E escrevo, numa emoção maiúscula, que...

Não é brasileira a minha poetisa...
Ela é poesia humanamente universal.

Um beijo.

Katyuscia.