segunda-feira, 7 de maio de 2012










AO ETERNO AMOR

De tanto que eu te amo, eu desalinho,
e dou voltas e voltas no destino.
A procurar por ti, aqui pertinho,
sinto minh‘alma em dor. Burlo o divino!
E volto a amamentar-te com carinho.

E tu sugas meu leite. O doce sumo
que a natureza-mãe concede à cria.
Olhas pra mim... E eu, em ti, presumo
o anjo que de mim nasceu um dia.
E lágrimas fecundam o meu humo.

Eu volto à fonte, ao grão original.
Fecundo o corpo e a alma novamente.
Sem saudade, sem dor, sem funeral...
E desvendo o mistério da semente
que brota em meu canteiro universal.

Ao entender que es meu próprio fruto,
retorno ao mais profundo sentimento...
Ao eterno amor, por ti, que eu desfruto.
O amor que te transforma em linimento.
E faz de ti o meu eterno luto.

Kátia Drummond

Foto: Sávio Drummond, meu eterno amor.

sábado, 17 de março de 2012

DE LUA E ESTRELAS…

Se encontrares uma mulher qualquer,
feia, pálida e seminua, bem à tua frente,
por certo não é nenhuma louca. Sou eu!

E, de mim, nada a temer. Sequer te assustes!
Pois, se olhares amorosamente, então verás
a lua, feita em manto, sobre o meu corpo.
E estrelas cintilando em meus cabelos.

Se, não por acaso, não os vias antes,
é que olhavas apenas com o olhar da razão.
E a razão também é fera traiçoeira!

De agora em diante, suplico-te,
não sejas tão demente, oh meu amor…
Vê se me enxergas com o olhar do coração.

E descobrirás, surpreendentemente,
que a fulgurante lua que me veste,
e as estrelas cintilantes em meus cabelos,
vêm do âmago do teu próprio ser.

Sou eu, o teu translúcido e fiel espelho!
Em mim tu vês, em essência, a tua natureza.
Seja o reflexo espectral do teu próprio breu…
Seja a luz azul da tua própria alma, radiosa,
vestida de lua e cintilando estrelas sobre mim!


Kátia Drummond 

Arte: Brian Froud – Fada

segunda-feira, 12 de março de 2012

MAR MORTO

Não é de agora a nossa tatuagem...

Fomos marcados em tempos distantes,
no  longínquo país das poesias,
e éramos, os dois, seres vagantes…
Seres libertos do sim e do não,
a navegar no mar das fantasias,
sem mergulhar no poço da ilusão.
De quando as fadas nos acompanhavam,
e os anjinhos da guarda nos zelavam
contra os perigos da desilusão.

Não é de agora a nossa tatuagem...

E se aqui, na Terra, de passagem,
nós nos reencontramos novamente,
é que, em meio ao louco turbilhão,
essa misturação de tanta gente,
fomos tecidos do mesmo cordão.
Nascemos frutos da mesma semente.

Não é de agora a nossa tatuagem...

Se a nossa união vem de outrora,
e se temos o amor por engrenagem,
no mundo da paixão é diferente.
É cada qual por si. Isso é normal!
Mas… Sereno como a brisa matinal,
você seguiu em frente, porto a porto,
segundo o ritual da cabotagem.
E eu, sob os presságios da paixão,
virei um anjo à toa, um anjo torto.
Que em meio aos vãos apegos da emoção,
perdeu a rota, o rumo da viagem…
Afogou-se nas águas de um mar morto!


Kátia Drummond

Foto: Kátia Drummond. In Sweden.