domingo, 11 de março de 2007


ENTRE ALFAZEMAS E ALECRINS

[Para Sávio Drummond. Com amor de “mãe-peregina”.

Para ti, dessas águas lusitanas,
segue pelo mar uma garrafa
cheia de luzes encantadas,
que roubei dos pirilampos,
para que ilumines as tuas noites.
E mando preciosos raios de sol,
para que fulgures os teus dias.
Também vão cantos de rouxinóis,
para encheres de gorjeios os teus tempos.

E, na lonjura, ao lembrares de mim,
sintas que a poesia continua viva,
como o sol ardendo em flamas.
Vasta com um rio. Infinita como o mar.

Como minhas asas já não voam,
piso suavemente na terra alheia,
para não ferir os brotos de alecrins,
nem os campos lilases de alfazemas.

Ainda, para não esqueceres de mim,
fiz das ramas do trigal um novo ninho.
E de algas anda farta a nossa mesa.

Anda, vem ligeiro ouvir um fado,
que as guitarras não param de tocar,
que as velas já estão acesas,
que os incensos perfumam toda a casa.

Sobe nas asas de um falco-peregrinus,
aproveite o vento que por aí passa,
e voe... voe nos céus, vem além-mar.

Enquanto a terra ainda gira,
enquanto o tempo não pára,
enquanto o sangue corre-me nas veias.

Porta aberta, abrigo de saudades,
meu ardente coração clama por ti.
E a poesia está cansada de esperar.


Katia Drummond
Em outono português. Sintra, 2005.

3 comentários:

Romance Rosa de Sarom disse...

Seus poemas são tão profundos quanto o mar, infinitos como firmamento.
Viajar, reler o tempo como memórias pessoas que a todos nos afetam,
Na verdade a sua poesia é isso mesmo um resumo de um dia para outro dia.

Miguel Westerberg
2007-03-13

Ivo Korytowski disse...

Palmas!

della-porther disse...

lindo, Kátia amiga querida...

sua poesia a encantar-me nesta tarde de sol quente e céu azul maravilhoso de nossa terra amada bahia.

beijos na família

emília