sábado, 19 de novembro de 2011


SONHO DO AMOR DEMAIS…

Nosso amor demais é tanto, 
que eu sempre te espero, ainda.
Bem sei que também me esperas,
na nossa saudade infinda...

Passam as horas, passa o dia,
e a nossa casa, vazia.
Mesmo se tem muita gente!
É um estranho sentimento,
uma dor que rói por dentro.
Será que o coração mente?

Ou o insuportável tormento,
que rouba a luz da alegria,
é a ilusão de quem sonhou,
e que no instante de um dia,
sem adeus, sem despedida,
viveu a dor da partida
e nunca mais acordou?

Que estranha é esta vida!
Quando mistério contido
em todo ser e não ser.
Às vezes, muita esperança.
Outras tantas, vã lembrança.
É a vereda do viver!

Trago em mim o sentimento
da eterna impermanência 
que contém cada momento.
E ao mar vagando ao relento,
a cada onda e tormento,
prefiro seguir o rio... 
Fluir sem olhar pra trás,
pronta a qualquer desafio.

E no borbulhar das águas
flutuantes, contra o vento,
sigo o amor em movimento,
sem alcançá-lo, jamais!
Mas… A minha natureza,
que há muito perdeu a paz,
desse amor é, com certeza,
escrava da correnteza
da vil saudade voraz.

Katia Drummond

Foto: Fumiu Tomita/amanaimages/Corbis