À PROCURA
Procuro um amigo...
Desses que não existem mais.
Que seja leve como a pluma,
suave como a seda,
doce como o mel,
canoro como o bem-te-vi.
Procuro um amigo...
Desses que vêem com o coração.
Que ame a mãe natureza,
voe num falco peregrinus,
e seja capaz de conversar
com os morceguinhos.
Procuro um amigo...
Desses dos contos de fadas.
Que tenha estrelas no olhar,
adormeça nas nuvens,
baile com o vento,
e cavalgue no unicórnio azul.
Procuro um amigo...
Desses sem tempo nem hora.
Que não escreve cartas,
e que não tem espelho.
Que dobra as curvas do tempo,
sem pressa de chegar nem de partir.
Procuro um amigo…
Desses sem rimas nem ensaios.
Que saiba pousar em ninhos,
que queira nadar em cachoeiras…
Seguir ventos de moinho,
e romper, com o silêncio, a dor.
Procuro um amigo…
Desses que caçam arco-íris no infinito…
Que se encontre com o louva-a-deus,
que desvende labirintos…
Incapaz de destruir casulos.
Com asas diáfanas de borboleta.
Procuro um amigo…
Desses com olhos de Hórus.
Que enxergue além do invisível,
que penetre o jogo mágico das luzes,
que vislumbre a lua despindo a noite,
e o horizonte engolindo o sol.
Procuro um amigo…
Biólogo, fotógrafo, músico e poeta.
Que entenda de amor e de utopia.
Que transcenda todas as ternuras.
Que tenha nascido no dia 05 de abril,
e que se chame Sávio Drummond.
Katia Drummond
Em primavera brasileira.
Foto: Sávio Drummond – Platyrrhinus lineatus consumindo Ficus.