INEXORAVELMENTE
Vivo em dores...
Porque o amor, em mim,
não sopra talhos
nem costura cortes.
Vivo em chamas...
Porque a saudade, em mim,
queima as raízes
e crema o corpo em cinzas.
Do que fui, restam estilhaços.
Puzzle de peças desencontradas.
Minha luz, em brilho opaco,
não mais irradia sonhos.
Meu sol, a sucumbir no horizonte,
afogou-se nas profundezas do mar.
Eu, princesa dos contos de fadas,
perdi-me nos caminhos florestais...
O vento levou-me as pedras
que marcavam as trilhas.
Restou-me apenas a lição do filho ausente:
“Mãe, roubaram-te do caminho até as pedras?
Danem-se as pedras e os caminhos.”
Quem sabe, daí... Sobreviverei
ao inexorável destino que me resta?
Eu, sombra de mim, a vagar incrédula...
Em busca do inóbvio. À procura da paz.
Kátia Drummond
The travelling poet
The travelling poet
Imagem: Momatiuk (Death Valley National Park)