quarta-feira, 12 de janeiro de 2011


INEXORAVELMENTE

Vivo em dores...
Porque o amor, em mim,
não sopra talhos
nem costura cortes.

Vivo em chamas...
Porque a saudade, em mim,
queima as raízes
e crema o corpo em cinzas.

Do que fui, restam estilhaços.
Puzzle de peças desencontradas.

Minha luz, em brilho opaco,
não mais irradia sonhos.
Meu sol, a sucumbir no horizonte,
afogou-se nas profundezas do mar.

Eu, princesa dos contos de fadas,
perdi-me nos caminhos florestais...
O vento levou-me as pedras
que marcavam as trilhas.

Restou-me apenas a lição do filho ausente:
“Mãe, roubaram-te do caminho até as pedras?
Danem-se as pedras e os caminhos.”

Quem sabe, daí...  Sobreviverei 
ao inexorável destino que me resta?

Eu, sombra de mim, a vagar incrédula...
Em busca do inóbvio. À procura da paz.


Kátia Drummond
The travelling poet

Imagem: Momatiuk (Death Valley National Park)